sexta-feira, 13 de março de 2009

A ALMA BOA DE SETSUAN: A COMÉDIA REFLEXIVA DE BRECHT TAMBÉM POSSUI SUAS DELÍCIAS



Bertolt Brecht foi um dos grandes inovadores do teatro no século XX, sua teoria acerca de uma representação épica propunha um distanciamento entre drama e realidade, fazendo com que o espectador criasse uma visão crítica a partir das cenas observadas. Tornando claro os mecanismos artificiais na produção cênica, o autor concentrava-se nos valores ideológicos presentes nos textos dramáticos. Brecht foi um "produtor" de consciência política no público!
Com A Alma Boa de Setsuan, o dramaturgo provou que pode ser também engraçado. A recente adaptação com a atriz Denise Fraga, e grande elenco, exemplifica a impossibilidade da existência do maniqueísmo no ser humano. Obviamente, ninguém é apenas bom ou mal, mas uma complexa junção das duas coisas.
No texto original, três deuses descem à terra à procura de uma alma boa, o que encontram na camponesa Chen-Tê e, por tal, a presenteiam com uma boa quantia em dinheiro. Chen-Tê assume, então, uma segunda personalidade, Chui-Tá, como forma de dizer não aos que pudessem lhe pedir ajuda, e assim aproveitar para arrecadar algumas moedas.
A adaptação do diretor Marco Antonio Braz traz apenas um deus, como forma de representação da Santíssima Trindade. A peça mostra os limites entre bondade e crueldade, e a forma como o ser humano apresenta dificuldades de dizer não, sua tendência para a caridade, mas também o seu medo de, por tal atitude, ser explorado.
Em entrevista ao Caderno G do jornal Gazeta do Povo (edição de 8/03/09), a atriz Denise Fraga declarou que "não é difícil fazer uma pessoa rir, mas me interessa esse fio de comédia reflexiva, é a matéria mais delicada de se trabalhar e a mais fascinante também. Essa é, das peças que fiz, a que mais tem isso."
A seguir, um fragmento da entrevista concedida ao jornal.
Caderno G: Faço para você a pergunta que é o mote da peça: É possível se manter uma pessoa boa e generosa no mundo competitivo em que vivemos?
Denise: As pessoas estão justificando muita coisa por dinheiro. Temos esse convite a agir de forma mais severa, para exigir respeito, mas estamos negando o poder da gentileza, da solidariedade. Acho que a gente vive uma crise humanitária, em que não se fala desses valores, porque parece um discurso bobo. Acaba-se justificando atitudes injustificáveis. [...]
A peça estará em cartaz em Curitiba, no Teatro Guaíra, nos dias 14 e 15 de março.

Nenhum comentário:

Postar um comentário