terça-feira, 24 de março de 2009

FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA 2009: DE 17 A 29 DE MARÇO





Começou no dia 17 de março o Festival de Curitiba, mais conhecido como Festival de Teatro de Curitiba. O evento já trouxe grandes peças e causou polêmicas, caso da Montagem de "A Cabra ou Quem é Sylvia", com José Wilker e Denise Del Vecchio, direção de Jô Soares.
Continuam fazendo parte do festival a mostra Fringe e o Risorama. Mas as novidades também são bastante atraentes, o evento PUC Idéias traz mostras e palestras com nomes em evidência na cena nacional como o jornalista Caco Barcellos e o cineasta Marcos Jorge.
O evento conta, ainda, com exposições, festas, shows e encontros gastronômicos.

Confira programação no site http://www.festivaldecuritiba.com.br/


cena de Bodas de Sangue. foto: Daniel Isolani

domingo, 22 de março de 2009

NASCE O BLOG DA OFICINA LITERÁRIA VERSO E PROSA




Uma simples iniciativa pode gerar grandes idéias. A partir de um projeto desenvolvido por Eliane Andrade Krüguer nasceu a Oficina Literária de Campo Largo, encontro realizado semanalmente com o objetivo de refletir acerca da cultura universal, mais especificamente, da literatura. Nesses momentos surgiram, além de grandes discussões, novos talentos na escrita.


O grupo é bastante heterogêneo, formado por escritores, ou amantes da escrita, com ideologias e estilos dos mais variados. Depois de muitos trabalhos realizados, nasce o blog Oficina Literária Verso e Prosa, como forma de compartilhar as descobertas e dialogar com todos aqueles que escrevam, leiam, ou simplesmente amem a literatura.


Neste espaço circulam os amantes da "simetria", dos versos livres, dos contos, das crônicas, dos romances, além dos poetas engajados, dos leitores apaixonados, de todos aqueles que de alguma forma apreciam as belas letras.


Para dúvidas ou sugestões, segue o email de contato: oficinaliterariacl@gmail.com


Os encontros acontecem às quartas-feiras, das 18h às 20h, na Biblioteca Pública de Campo Largo.


segunda-feira, 16 de março de 2009

O ESPELHO: DEDICADO A UMA MULHER DE CORAGEM



O ESPELHO

Escova os frescos cabelos
diante da pretensa opacidade
do espelho que a revela
numa dor inquietante
E quando mira os olhos à janela
vazante do arrebol,
expandem-se imagens fugidias
de um rosto que há muito
conheceu
E desfazem-se as tranças
como o emaranhado de memórias
irrompem os brados
de um sofrimento
paradoxalmente salutar
Os longos fios
caem à fria pele
com leveza
como o toque
daquelas mãos
que um dia a beijaram
com o furor
do calor que a tomou
quando pensou
não haver mais vida
E se a obscuridade
por ora revela-se
maior
Se o mal
invade-lhe as entranhas
com força,
ainda restam os delicados fios
para, reluzentes,
a lembrarem
de que nunca deixará de ser
humana.

POEMA DEDICADO A MARIA DOS SANTOS, UMA MULHER DE CORAGEM!

(poema de Jaqueline Nascimento)
ilustração:Mariana in the South (1897) John William Waterhouse

sábado, 14 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

A ALMA BOA DE SETSUAN: A COMÉDIA REFLEXIVA DE BRECHT TAMBÉM POSSUI SUAS DELÍCIAS



Bertolt Brecht foi um dos grandes inovadores do teatro no século XX, sua teoria acerca de uma representação épica propunha um distanciamento entre drama e realidade, fazendo com que o espectador criasse uma visão crítica a partir das cenas observadas. Tornando claro os mecanismos artificiais na produção cênica, o autor concentrava-se nos valores ideológicos presentes nos textos dramáticos. Brecht foi um "produtor" de consciência política no público!
Com A Alma Boa de Setsuan, o dramaturgo provou que pode ser também engraçado. A recente adaptação com a atriz Denise Fraga, e grande elenco, exemplifica a impossibilidade da existência do maniqueísmo no ser humano. Obviamente, ninguém é apenas bom ou mal, mas uma complexa junção das duas coisas.
No texto original, três deuses descem à terra à procura de uma alma boa, o que encontram na camponesa Chen-Tê e, por tal, a presenteiam com uma boa quantia em dinheiro. Chen-Tê assume, então, uma segunda personalidade, Chui-Tá, como forma de dizer não aos que pudessem lhe pedir ajuda, e assim aproveitar para arrecadar algumas moedas.
A adaptação do diretor Marco Antonio Braz traz apenas um deus, como forma de representação da Santíssima Trindade. A peça mostra os limites entre bondade e crueldade, e a forma como o ser humano apresenta dificuldades de dizer não, sua tendência para a caridade, mas também o seu medo de, por tal atitude, ser explorado.
Em entrevista ao Caderno G do jornal Gazeta do Povo (edição de 8/03/09), a atriz Denise Fraga declarou que "não é difícil fazer uma pessoa rir, mas me interessa esse fio de comédia reflexiva, é a matéria mais delicada de se trabalhar e a mais fascinante também. Essa é, das peças que fiz, a que mais tem isso."
A seguir, um fragmento da entrevista concedida ao jornal.
Caderno G: Faço para você a pergunta que é o mote da peça: É possível se manter uma pessoa boa e generosa no mundo competitivo em que vivemos?
Denise: As pessoas estão justificando muita coisa por dinheiro. Temos esse convite a agir de forma mais severa, para exigir respeito, mas estamos negando o poder da gentileza, da solidariedade. Acho que a gente vive uma crise humanitária, em que não se fala desses valores, porque parece um discurso bobo. Acaba-se justificando atitudes injustificáveis. [...]
A peça estará em cartaz em Curitiba, no Teatro Guaíra, nos dias 14 e 15 de março.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A M A R: A POÉTICA AVASSALADORA DE FLORBELA ESPANCA


Florbela Espanca nunca se encaixou em nenhuma escola literária, alguns teóricos afirmam que ela ela faria parte de uma corrente intitulada neo-romantismo. No entanto, seus versos pungentes são universais.
Em maio de 1915, a poeta portuguesa dá início a Trocando Olhares, um caderno do qual farão parte inúmeros textos em verso e prosa.

O ESPECTRO

Anda um triste fantasma atrás de mim
Segue-me os passos sempre! Aonde eu for,
Lá vai comigo…E é sempre, sempre assim
Como um fiel cão seguindo o seu Senhor!

Tem o verde dos sonhos transcendentes,
A ternura bem roxa das verbenas,
A ironia purpúrea dos poentes,
E tem também a cor das minhas penas!

Ri sempre quando eu choro, e se me deito,
Lá vai ele deitar-se ao pé do leito,
Embora eu lhe suplique:Faz-me a graça

De me deixares uma hora ser feliz!
Deixa-me em paz!…” Mas ele, sempre diz:
“Não te posso deixar, sou a Desgraça!”
(in: Trocando olhares - 28/06/1916)
ASSIM SÃO OS TEXTOS DE FLORBELA ESPANCA...


domingo, 8 de março de 2009

MEMÓRIAS DE UMA BRUXA


Somos um pouco bruxas. Certamente um pouco bruxuleantes nos momentos incógnitos, assim como nos momentos de fúria. Somos adeptas às mandingas, mas delas não nos favorecemos. Nossos encantos são um pouco mais suplicantes. O farfalhar de nossas saias não provoca mais ruídos que nossas almas, que, quando solitárias, acolhem-se no pranto fingido da alegria. Sim, esmorecemos, somos palavras correndo soltas, fugindo da métrica dos versos que nos perseguem, serpenteando por caminhos obscuros, tropeçando aos olhos ferozes daqueles que nos julgam.
Somos também caixa cintilante, forrada com a seda delicada dos anos felizes, recheada pelas lembranças e ansiedade de sermos livres. Não queimamos os nossos tesouros em fogueiras, não somos hereges com relação ao amor. Mas se nos tomam o resto de sanidade, colhemos um ódio, usamos a mordaça silenciosa que aos poucos mastigamos até que o esquecimento a faça desaparecer.
E quando um novo sol nasce, assumimos outras nuances. Surgem tules e pérolas, broches e rosas. Nossos lábios, de tão vermelhos, tornam-se amáveis suspiros rarefeitos. Nossas camas, templos reflexivos, tornam-se ditosos locais de oração, de onde estendemos as mãos contrárias a todo o não.
Somos assim, feitas de uma complexidade bastante simples até. Sedutoras aos olhos ingênuos, vorazes na realidade da essência. Somos um delicioso compêndio de feitiços, uma intensa bebida a ser saboreada. Somos tão ingênuas e felizes por vezes, mas dissimuladas quase o tempo todo.
Assim, enchemos nossas casas de tudo que nos resume, somos surpreendentemente leves, mas cuidado com nossas tempestades, porque também somos puras, e a pureza exige força. Não nos envergonhamos facilmente, e quando o fazemos, é porque alguém que amamos foi ferido.
Quando morremos, nossas dores parecem nos sufocar, as cores nos deixam por um átimo que nos representa quase uma eternidade. Mas quando novamente nascemos, retornamos tão fortes e com uma beleza nauseante. Sempre seremos tudo na vida de alguém...uma dor, uma imagem opaca, uma lembrança vã, ou um beijo efêmero.
Somos loucas, de uma insanidade profunda, quase irremediável. Somos estes olhos brilhantes, indeléveis. Somos etéreas, somos musas, somos temidas. Somos um sonho que se perdeu, ou que está para se realizar. Somos tão indefiníveis e, portanto, fascinantes.
Ai daquele que nos seguir ... perder-se-á deliciosamente para todo o sempre.
ilustração: "Hylas and the Nymphs" (study 1 - 1896) John William Waterhouse.