terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

RESPEITOSAMENTE QUEER



O começo de 2009 foi marcado por um tumultuoso e inflamado leque de novas discussões acerca da homossexualidade. Desta vez, a arte fez o seu papel. Lembremos, aproveitando a recente cerimônia do Oscar, de um dos filmes mais comentados nos últimos meses: "Milk - A Voz da Igualdade". A película retrata a vida de Harvey Bernard Milk, o primeiro político assumidamente gay da história, com uma interpretação (o que não se mostra mais novidade) inquestionável de Sean Penn, o que lhe rendeu merecidamente a estatueta máxima de melhor ator.
A Queer Art vem sendo explorada há muito, desde Andy Warhol nas artes plásticas até Jean Genet na Literatura.
Na última semana, o Festival de San Remo (promovido anualmente na Itália) causou discussões em todo o mundo ao abrir espaço à música do cantor Povia "Luca era gay", gerando grande polêmica. Esta foi uma forma do cantor, que se autodeclara um "ex-gay", de afirmar que a homossexualidade não é uma condição, mas uma escolha. Para ele, não se nasce gay, mas se torna gay, o que torna perfeitamente possível que se deixe de sê-lo.
Inúmeras entidades pró-gays protestaram contra este ato, reconhecendo-o como forma de preconceito e homofobia.
Por vezes altamente engajada, a queer art poderá voltar a discutir esta questão como forma de respeito às diferenças, sejam elas culturais, sociais, ou mesmo sexuais. Tornando-nos um pouco mais íntimos desta corrente teórica, talvez seja possível que que aprendamos que o respeito deve ser inerente ao ser humano, indepente de suas idiossincrasias.
Segue o link do polêmico vídeo "Luca era gay", de Povia.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

OSCAR 2009



Com algumas inovações e surpreendente atuação de Hugh Jackman como apresentador, a noite do Oscar parece ter retomado sua esperada qualidade, o que se refletiu nas premiações, consagrando Quem quer ser um milionário, que conseguiu 8 das 10 indicações.
Outro momento, no mínimo histórico, foi a consagração do ator australiano Heath Ledger, com um Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante.
Segue a lista completa dos premiados.

Melhor filme: Quem quer ser um milionário

Melhor diretor: Danny Boyle (Quem quer ser um milionário)

Melhor atriz: Kate Winslet (O leitor)


Melhor ator: Sean Penn (Milk - AVoz da Igualdade)


Melhor ator coadjuvante: Heath Ledger (O cavaleiro das trevas)


Melhor atriz coadjuvante: Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)


Melhor roteiro original: Milk - A Voz da Igualdade (Dustin Lance Black)


Melhor roteiro adaptado: Quem Quer Ser um Milionário? (Simon Beaufoy)


Melhor filme em língua estrangeira: Departures (Japão)


Melhor longa de animação: Wall-E


Melhor curta de animação: La Maison en Petits Cubes (Kunio Kato)

Melhor documentário: Man on Wire (James Marsh e Simon Chinn)

Melhor documentário em curta-metragem : Smile Pinki (Megan Mylan)

Melhor trilha sonora original: Quem Quer Ser um Milionário? (A. R. Rahman)

Melhor canção original: Quem Quer Ser um Milionário? ("Jai Ho")

Melhor direção de arte: O Curioso Caso de Benjamin Button (Donald Graham Burt e Victor J. Zolfo)

Melhor fotografia: Quem Quer Ser um Milionário? (Anthony Dod Mantle)

Melhor edição: Quem Quer Ser um Milionário? (Chris Dickens)

Melhores efeitos sonoros: Quem Quer Ser um Milionário? (Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty)

Melhor edição de som: Batman - O Cavaleiro das Trevas (Richard King)

Melhores efeitos especiais: O Curioso Caso de Benjamin Button

Melhor maquiagem: O Curioso Caso de Benjamin Button

Melhor figurino: A Duquesa

Melhor curta-metragem: Spielzeugland (Toyland) Jochen Alexander Freydank




domingo, 15 de fevereiro de 2009

DAS CONVERSAS COM FANTASMAS ...



FANTASMAS

Passaram-se anos
para eu descobrir
que viver dá medo
que viver fere
Ferem as distâncias
e as impossibilidades
O vento sopra impaciente ao meu rosto
adágios impiedosos
lembrando-me do que não fui.
A chuva dilacera meu corpo
com chagas que não cicatrizam
esconde-me de meu passado
faz do mistério o meu abrigo.
A terra molhada beija meus pés
condenando-me às lamentações
E o que vejo diante de mim
enquanto afundo
senão eu mesma?
Sorrindo enquanto desejo chorar
calando quando desejo gritar
deixando que fantasmas invadam meu quarto
durante as noites em que não posso dormir
E agora que caminho selvagem
pelas florestas que habitam meu coração
vejo que os anos me envelheceram
com toda sua indiferença
ensinando-me o que é crueldade
E quando se vai a chuva
volta o sol a queimar
minha face
para cegar-me
diante de meu futuro
não me permitindo enlouquecer
para então reiterar
o quanto sou efêmera
E os prados por onde ando
à procura de mim
envolvem-me os braços
imobilizando minhas esperanças
ser mulher é luta!
dores
lágrimas
ou um conceito obscuro de felicidade
As mentiras em que me perdi
tornam à minha mente
com os anos banais
sempre eles
e me encontro com fotos esparsas
de uma infância ilusória
fotografias que voam em céu relampejante
e que em rasantes ameaçadoras
afligem meu corpo a ser enterrado
E meus dedos sujos
tentam me livrar de meu sepulcro
e o ar que já me falta
ri do meu desespero
aperta minha mordaça
ferindo meus lábios sequiosos
E o que vejo acima de mim
senão eu mesma?
Pisando o chão que me consome
chorando minha própria morte
estendendo-me inutilmente a mão
aceitando o consolo alheio
e a falta de coragem decretada
e a passagem de uma vida
que me deu e me tirou
tudo.
A terra de onde vim
novamente me recebe
sem revelar os seus segredos
sem explicar o que são as lágrimas
que um dia acreditei cristalinas
que um dia chorei
pensando ser recompensada
E agora que vejo a mim mesma
sepultando-me e fingindo dor
digo-me:
procura-te sempre
ainda que nunca te conheças
e dorme
porque o meu fantasma
não mais te atormentará.

(Jaqueline Nascimento)

poema publicado no blog italiano http://www.paolascialpi.blogspot.com/
em 12/12/08.
ilustração: "Boreas", pintura em óleo de John William Waterhouse (1902)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A POESIA E AS BUGANVÍLIAS: O TEXTO REPLETO DE CORES DE ADRIANA LISBOA



Com aparente simplicidade, os textos da escritora Adriana Lisboa percorrem caminhos tão improváveis quanto surpreendentes. A delicadeza é parte insubstituível de suas palavras e, especialmente, das imagens poéticas por elas construídas.
Adriana nasceu em 1970 no Rio de Janeiro, onde passou grande parte de sua vida, morou na França e atualmente vive entre o Rio e o estado do Colorado, nos Estados Unidos. Sua formação original foi em música, mas acabou "descobrindo-se" mais tarde enquanto escritora. é doutora em Literatura Comparada pela UERJ, onde também fez mestrado em Literatura Brasileira.
Considerada uma das grandes revelações da nossa literatura, tem entre seus trabalhos publicados as obras "Os Fios da Memória" (1999), "Sinfonia em Branco" (2001), "Um beijo do colombina" (2003), "Caligrafias" (2004), "Rakushisha (2007)"; os infanto-juvenis "Língua de Trapos" (2005), "Contos populares japoneses" (2008), todos pela Editora Rocco, e "O coração às vezes pára de bater" (2007), pela PubliFolhas.
Em seu site, http://www.adrianalisboa.com.br/, é possível verificar os prêmios com os quais foi agraciada: "Recebeu o Prêmio José Saramago, em Portugal, e, no Brasil, o prêmio de autor revelação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e o prêmio Moinho Santista (atual Fundação Bunge). Recebeu ainda bolsas de criação e tradução da Fundação Biblioteca Nacional, do Centre National du Livre (França) e da Fundação Japão. Foi selecionada pelo projeto Bogotá 39/Hay Festival, que apontou os 39 mais importantes autores latino-americanos até 39 anos na ocasião da eleição de Bogotá como capital mundial do livro pela Unesco, em 2007. "
Em destaque o seu texto Primavera, publicado no site do projeto Releituras (http://www.releituras.com/)

Primavera
Cinzento, todo cinzento. Sob uma tarde cinzenta. Sob as asas havia também um pouco de amarelo, notei. A buganvília quase não tem folhas: só flores. Magenta, cor-de-rosa, um híbrido pleno e doloroso. Sobre a mesa da varanda, o cacto se curvou um pouco por causa da última ventania. E no entanto nos basta um momento como este. Telhas de zinco, telhas de cerâmica, um pára-raios. Um cata-vento em forma de flor: roxa, com o miolo preto.
Na mesa de trabalho, ali ao lado, um frasco de colírio, um grampeador e um calendário. Uma máscara de Veneza e um porta-retratos com a porta azul de uma casa em Tiradentes. A página número 312 do livro que está sendo traduzido. He had, however, bolted the stable door; and by the time they had forced it open there was no sign of him. Três canetas e um envelope pardo. Um enorme dicionário de capa azul e um livro: Seis problemas para Don Isidro Parodi.
Uma mosca passa e vai embora. O chão da varanda está manchado de vermelho-ferrugem e em algum lugar alguém acelera o motor do carro. Um finíssimo véu de claridade respira, e logo se desmancha entre as nuvens.
(Adriana Lisboa)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

UMA VOZ INESQUECÍVEL



A cantora brasileira Elis Regina deixou um belo compêndio musical a ser visto e revisto, ouvido e sentido. Aos saudosos, um video com uma bela interpretação de Me deixas Louca, em sua última exibição pública antes de morrer.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

ALLA MIA ETÀ ...



Há um momento na vida, e todos chegarão a ele inevitavelmente, que nos voltamos às reflexões acerca daquilo que fizemos, acerca daquilo que gostaríamos de ter feito ou ter sido, daquilo que sabemos que talvez nunca teremos a coragem necessária para fazer. É um momento muitas vezes duro, de uma crueldade dilacerante, mas um momento que também pode nos impulsionar a querer algo mais, a reconhecer que o choro é também uma espécie de fortificante.
Não, este texto não trata de um desabafo, mas de uma leitura acerca de um novo trabalho lançado no mercado: ALLA MIA ETÀ, novo álbum do cantor italiano Tiziano Ferro. É o que podemos chamar de uma bela caixa musical, repleto de novas nuances, um trabalho ora colorido, ora muito noturno e até perigoso ... este é talvez o trabalho mais maduro do cantor. Ferro é uma espécie de poeta pós moderno, fala do amor universal como uma exaltação à vida, mas às vezes consegue ser tão cruel consigo mesmo e tão intenso quanto uma tempestade. É bem provável que este trabalho seja sim um desabafo, uma quase autobiografia ... mas não podemos nos esquecer que todo poeta é também um fingidor, como já dizia Fernando Pessoa. O italiano consegue de fato confunfir o seu ouvinte, e vai muito além do estereótipo de galã. Não falamos aqui do que tantas (os) fãs espalhados pelo mundo vêem - apenas um homem bonito explicitando sorrisos e, em muitos casos, vocábulos incompreensíveis - mas falamos, sobretudo, de boa música, com textos atemporais, reflexivos e repletos de significado. As imagens poéticas criadas por cada palavra nos transportam para mundos diversos, e os nossos devaneios se tornam dos mais sugestivos, percorrendo diferentes cores, sabores, chegando ao sol, viajando à lua, numa grande profusão de leituras.
E se voltarmos à questão do primeiro parágrafo, podemos citar a canção título do cd Alla Mia Età (À minha idade), que nos mostra como um erro pode muitas vezes nos condenar de maneira inexorável, de como uma palavra dita ou escrita pode nos "ferir de morte". É, a meu ver, a mencionada canção noturna, aquela que exprime o quanto em tantos momentos é preciso morrer para se viver melhor, e agradecer aos que à sua idade (por que não à "nossa" idade?) também choram ainda, uma forma de não se sentir sozinho no mundo, especialmente em um momento de sofrimento.
O que Tiziano Ferro faz, e aqui não posso julgar musicalmente, visto que não sou crítica de música, é compartilhar da idéia de que a vida é uma poesia, e que, portanto, de que a poesia está em todo lugar.
Outras faixas do cd que recomendo: Il sole existe per tutti ("ti fermo all'iferno e mi perdo / perchè non ti lasci salvare da me?"); Il regalo più grande ("vorrei donare il tuo sorriso alla luna perchè / di notte chi la guarda possa pensare a te"); La paùra non esiste ("perchè le errore non esiste / e la paùra non esiste").
Todo o álbum merece ser ouvido!

Tiziano Ferro - Alla Mia Età
Tiziano Ferro

Sono un grande falso mentre fingo l'allegria..
sei il gran diffidente mentre fingi simpatia...
come un terremoto in un deserto che..
che crolla tutto e io son morto e nessun se ne
accorto..

lo sanno tutti che in caso di pericolo si salva solo
chi sa volare bene..
quindi se escludi gli aviatori..falchi...nuvole, gli
arei e gli angeli...rimani te
e io mi chiedo ora che farai..
e nessuno ti verrà a salvare..

complimenti per la vita da campione..
insulti per l'errore di un rigore..

e mi sento come chi sa piangere..
ancora alla mia età
e ringrazio sempre chi sa piangere di notte alla mia
età
e vita mia che mi hai dato...tanto amore, gioia,
dolore tutto...
ma grazie a chi sa sempre perdonare sulla porta alla
mia età..

certo che facile...non è mai stato,
osservavo la vita come la osserva un cieco..
perchè cio che hai detto puo far male..
però cio che hai scritto puo' ferire per morire..

e mi sento come chi sa piangere..
ancora alla mia età
e ringrazio sempre chi sa piangere di notte alla mia
età
e vita mia che mi hai dato tanto amore, gioia, dolore
tutto...
ma grazie a chi sa sempre perdonare sulla porta alla
mia età..

e che la vita ti riservi ciò che serve spero..
e piangerai per cose brutte e cose belle spero
senza rancore e che le tue paure siano pure..
e l'allegria mancata poi diventi amore..
anche se..
e perchè solamente il caos della retorica..
confonde i gesti e le parole le modifica e..
perchè dio mi ha suggerito che ti ho perdonato..
e ciò che dice lui l'ho ascoltato...

di notte alla mia età...
di notte alla mia età...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

FILME VENCEDOR DA ENQUETE: O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON






Você escolheu e agora resta conferir o resultado na grande festa do cinema, o Oscar. Segundo nossa enquete, porém, já existe um vencedor!Baseado no conto de F. Scott Fitzgerald, O Curioso Caso de Benjamin Button conta a história incomun de um homem que nasce com mais de oitenta anos e, ao contrário do que ocorre num ciclo normal de vida, passa a rejuvenescer com o tempo. A produção traz uma reflexão acerca da vida e da morte, do que é realmente ser jovem e velho, do que é amar, perder e ganhar e, em especial, do conflito entre o ser e o parecer. O elenco é composto por Brad Pitt, Cate Blanchett, Kimberly Scott, Jason Flemyng, Taraji Henson, Elle Fanning, Mahershalalhashbaz Ali e Emma Degerstedt.Com direção de David Fincher, o filme lidera as indicações ao Oscar, com 13 categorias ao total, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator para Brad Pitt.

"A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás... Mas só pode ser vivida olhando-se para frente"




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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

GOMORRA




Gomorra é um dos nomes que mais tem causado polêmica nos últimos meses, ao menos na Itália. Trata-se da obra do escritor e jornalista Roberto Saviano, um retrato das transações e ações da máfia napolitana - a Camorra - no país. O livro teve repercussão tão grande que virou adaptação cinematográfica, mostrando como jovens de origem humilde acabam por se envolver com a máfia se tornando uma espécie de recrutas. Ambas as produções causaram tal impacto (o filme foi cotado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, mas não seguiu na concorrência) que a máfia prometeu executar Saviano, um jovem de 30 anos, até o final de 2008, o que ainda não aconteceu. Segundo o próprio escritor, porém, a morte o ronda a todo instante, em recente entrevista à BBC2 de Londres, ele afirmou: "A Camorra sabe esperar o momento certo, a ocasião certa, e não esquece."
Na Itália, Roberto tem sido chamado por alguns de herói pós-moderno, vista sua coragem em delatar tantos crimes da organização. Ser herói é viver sob o domínio do medo? De qualquer forma, vale conferir livro e filme!
fotos: Cena do filme Gomorra (foto 1)
O escritor Roberto Saviano (foto 2)