sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ENTRELUGAR


ENTRELUGAR



Estende em gorjeios
as mãos frente aos ramos febris
Os pêssegos, outrora em flores,
caem ao chão em gesto servil
com a única preocupação
de oferecer-lhe o néctar
Vê-la assim indolente
com os lábios úmidos
e despertos
com o vento sibilante
roçando-lhe a pele
fastidiosamente
provoca-me qualquer estranhamento
Desejaria encontrar-me
tão plena e certa
Mas a mim
que sempre fui tão subserviente
quanto qualquer fruta
não foi dado o direito
de pertencer a espaço nenhum
Prenderam-me neste entrelugar
de onde nenhuma graça
pode me salvar
De onde eu, em desespero,
observo incrédula
a existência alheia
mirífica
miraculosa
enquanto minha vida
se esvai.

poema de Jaqueline Nascimento
ilustração: The Sorceress, John William Waterhouse (1913)

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