Bertolt Brecht foi um dos grandes inovadores do teatro no século XX, sua teoria acerca de uma representação épica propunha um distanciamento entre drama e realidade, fazendo com que o espectador criasse uma visão crítica a partir das cenas observadas. Tornando claro os mecanismos artificiais na produção cênica, o autor concentrava-se nos valores ideológicos presentes nos textos dramáticos. Brecht foi um "produtor" de consciência política no público!
Com A Alma Boa de Setsuan, o dramaturgo provou que pode ser também engraçado. A recente adaptação com a atriz Denise Fraga, e grande elenco, exemplifica a impossibilidade da existência do maniqueísmo no ser humano. Obviamente, ninguém é apenas bom ou mal, mas uma complexa junção das duas coisas.
No texto original, três deuses descem à terra à procura de uma alma boa, o que encontram na camponesa Chen-Tê e, por tal, a presenteiam com uma boa quantia em dinheiro. Chen-Tê assume, então, uma segunda personalidade, Chui-Tá, como forma de dizer não aos que pudessem lhe pedir ajuda, e assim aproveitar para arrecadar algumas moedas.
A adaptação do diretor Marco Antonio Braz traz apenas um deus, como forma de representação da Santíssima Trindade. A peça mostra os limites entre bondade e crueldade, e a forma como o ser humano apresenta dificuldades de dizer não, sua tendência para a caridade, mas também o seu medo de, por tal atitude, ser explorado.
Em entrevista ao Caderno G do jornal Gazeta do Povo (edição de 8/03/09), a atriz Denise Fraga declarou que "não é difícil fazer uma pessoa rir, mas me interessa esse fio de comédia reflexiva, é a matéria mais delicada de se trabalhar e a mais fascinante também. Essa é, das peças que fiz, a que mais tem isso."
A seguir, um fragmento da entrevista concedida ao jornal.
Caderno G: Faço para você a pergunta que é o mote da peça: É possível se manter uma pessoa boa e generosa no mundo competitivo em que vivemos?
Denise: As pessoas estão justificando muita coisa por dinheiro. Temos esse convite a agir de forma mais severa, para exigir respeito, mas estamos negando o poder da gentileza, da solidariedade. Acho que a gente vive uma crise humanitária, em que não se fala desses valores, porque parece um discurso bobo. Acaba-se justificando atitudes injustificáveis. [...]
A peça estará em cartaz em Curitiba, no Teatro Guaíra, nos dias 14 e 15 de março.
Nenhum comentário:
Postar um comentário