sábado, 9 de janeiro de 2010

Coragem

The Unwelcome companion: a street scene in Cairo (John William Waterhouse, 1873)

Outro dia ouvi em alguma canção que a coragem não será de mais ninguém se não for minha.
Pois bem. Cada um cria sua própria coragem. A minha ainda não chegou. A minha poesia ainda não me libertou. Alguns casulos não se abriram, não eclodiram expulsando seus suspiros temerosos, e a vida ... a vida se perdeu por algum caminho desconhecido e sem volta. Sinto que minha vida está começando, mas abandonei minha poesia.
As folhas que prendem meus rascunhos voam aos silvos do vento que anunciam a tempestade à minha janela. O medo. Como é cruel o medo.

Já não preciso mais de nada. Mas os meus versos ... eles não desejam mais me pertencer. Eles têm medo do que posso fazer. Eles estão em silêncio.

Mas admiro a vida alheia que passa diante de meus olhos ... fresca e exuberante.

Admiro aqueles que escolheram ter coragem. Coragem de usar as palavras, de compor seus próprios versos.

Algumas pessoas escolheram enfrentar a tempestade e transformaram seus rascunhos no livro de suas vidas. Essas pessoas sabem que os dias são plenos do sopro mirífico da esperança.

Eu escolhi ficar aqui. É como dizem que a vida segue. Não entrego meus versos, eu os procuro, mas não tenho mais o desespero e a vontade de antes. Se eles voam, apenas observo, pois não posso mais voar.

A ilusão de que meus versos tinham valor agoram deram lugar à certeza de que nada aprendi. Sigo apenas errando, sigo dentro do casulo que não eclodiu. E a vida se esvai.

Mas a vida alheia continua mirífica e, quem sabe, isso não faça minha poesia voltar? Eu retorno um pouco forte ... talvez.

Aos que possuem coragem ... ficam meus rascunhos. Talvez eles escrevam um novo poema.